Carlos,
 um amigo que eu não via há muito tempo ligou convidando para almoçar, 
trabalhávamos no centro. Convidou também ao Pedro, Joaquim e Danilo. 
Carlos era ex-gordo, conhecia os melhores restaurantes da cidade.
Ele
 fez reservas em uma temakeria na Galeria Metrópole, disse que seria 
impossível conseguir um lugar lá em plena sexta feira sem reserva. Nossa
 mesa era fora, num canto tranquilo. Nunca gostei muito de temaki, 
olhava para o cardápio e não demorei muito para escolher o de salmão. 
Carlos não conseguia decidir qual era melhor. Enquanto isso, três 
garotas entraram no perímetro e pegaram uma mesa do outro lado, o lado 
movimentado, mas de frente para a nossa. Eram garotas normais, 
atraentes. A mais bonita era morena, usava um vestido preto, curto, que 
realçava a palidez da sua pele.
Começaram
 os comentários sobre elas na mesa, nada de mais, mas logo deram espaço 
para outros assuntos mais corriqueiros, os resultados do campeonato de 
futebol, os novos jogos de vídeo game que estavam para ser lançados, o 
andamento dos projetos que trabalhávamos. O lugar estava cheio, e quando
 enfim fizemos nosso pedido Joaquim, que estava sentado à cabeceira da 
mesa pediu para não olharmos ainda, e disse que a mulher de vestido 
preto estava sentada com as pernas abertas. Todo mundo sabe (ou deveria 
saber) que pedir para não olhar é o mesmo que pedir para olhar 
escrachadamente. As quatro cabeças giraram em sincronia em direção à 
outra mesa. Ali, entre aquelas pernas brancas e o vestido preto pontava 
claramente a calcinha rendada, rubra como uma maçã, e que imediatamente 
atiçou todos da nossa mesa. Pedro o mais brincalhão e que estava sentado
 de costas para a outra mesa levantou de uma vez e olhando para Joaquim 
disse: - Cara, o cardápio está aí? - Antes de ouvir a resposta ele 
emendou - Pode deixar, vou até aí. - E levou sua cadeira junto. Nesse 
meio tempo nossos pedidos haviam sido entregues. Ríamos, bebíamos e 
olhávamos, principalmente olhávamos. Não admitíamos mas toda a nossa 
atenção estava centrada entre aquelas pernas. Pedro disse que se 
levantaria, levaria o celular desbloqueado até a mesa e diria – Moça, 
seu número por favor – todos sabíamos que ele não faria isso, mas ele 
jurava que faria assim que terminasse de comer. Ela parecia não perceber
 os olhares, às vezes dirigia um olhar fixo para nossa mesa, mas então 
continuava conversando e rindo com as amigas como se não estivéssemos 
lá. Havíamos terminado o horário de almoço, pagamos a conta e antes de 
chegar ao escritório já havíamos esquecido da moça.
6 horas antes...
Ela
 acordou com tesão, sentou na cama como fazia todos os dias, pensando em
 todo o cronograma do dia. Levantou, tomou banho, penteou os cabelos, o 
tesão não passava. Ela estava sozinha há algum tempo e decidiu que 
aquele seria um bom dia para se divertir e conhecer alguém, estava 
cansada das mesmas pessoas. Escolheu um vestido preto, não gostava de 
vestidos curtos como aquele que comprara por impulso, sempre fazia isso.
 Pôs uma calcinha rendada, por experiência sabia que os homens adoravam 
ver mulheres usando peças delicadas, e vermelha por que o vermelho 
desperta instintos primitivos.
No
 trabalho o tempo demorava a passar. Os homens a olhavam, mas ela já 
havia vivido o suficiente para saber que não deveria se envolver com 
alguém do trabalho. Pouco antes do almoço as meninas decidiram que 
experimentariam aquela temakeria que todos estavam comentando. Ela 
adorava temaki, o tesão não cedia. Chegando lá viu a oportunidade, cinco
 caras na outra mesa. Entrou em ação, conversando, rindo passando a 
impressão de que era feliz, independente. Funcionou, eles a perceberam. 
Escolheu com cuidado o lugar para que eles pudessem vê-la.
Na
 primeira oportunidade afastou um pouco as pernas, o suficiente para que
 o vermelho de sua calcinha fosse notado. Um deles mordeu a isca e agora
 ela poderia sentir todos os olhares, fingia não ver enquanto ria com as
 amigas sobre a cena da novela que acompanhavam. Sentia-se desejada e 
isso só aumentava seu próprio desejo. Agora era só esperar que algum 
deles tomasse a iniciativa.
Um
 deles havia mudado de cadeira para ficar de frente para ela, o que ele 
estava esperando para ir até lá? O desejo só aumentava enquanto 
esperava. Nenhum deles tomava a alguma atitude, até que então um se 
levantou e foi em direção à sua mesa. Enfim seria recompensada por sua 
ousadia. Os outros fizeram o mesmo, mas todos passaram direto, pagaram a
 conta e foram embora sem olhar para trás.
Qualquer
 outra pessoa sentiria um golpe na autoestima, mas ela não. Eles saíram 
perdendo, ela teria uma longa tarde pela frente e quem sabe teria mais 
sorte no bar depois do expediente?
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						on terça-feira, 17 de março de 2015
						at 18:30
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